POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Imagem: https://www.hangingloosepress.com/
INDRAN AMIRTHANAYGAM
( SRI LANKA / U.S.A. )
Poeta, ensaísta e tradutor de poesia do Inglês, Espanhol, Francês, Português e Haitiano nativo.
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 2, Número 3, jan./ju.. 2020 Brasília, DF: Editora Cajuína,
2020. 124 p. Presidente: Flavio R. Kothe. ISSN 2674-8495
Tradução do Espanhol
por MARCOS FREITAS
TERRITÓRIO
Como um cão
que urina
o muro para marcar
seu território,
o diplomata assiste
ao coquetel e começa
a falar aos demais
convidados
da gripe aviária,
da revolução francesa,
do concerto da
filarmônica de Viena
pela primeira vez
em terras régias,
um acontecimento
para contar aos bisnetos.
Ouça, não houve acordeões
nem botes, homens puros
vestidos de smoking
tocando fagotes e trompas
para anunciar o amanhecer,
o primeiro dia, o ano novo.
CODA
O diplomata regressa a casa
sintoniza seu rádio
em uma emissão postergada
do concerto da noite,
dá de comer a seu cão.
JUÁREZ
i.
Nem moscas, nem borrachudos: asas
nascidas no pó, mitocôndria,
se entrelaçam dando voltas
no ar perante a mesa
aonde os poetas falam
de escrever sobre cadáveres
ii..
Não se pode cair
nestes barrancos passar
uma noite tranquila, levantar-se
ao amanhecer e caminhar
para buscar água doce
do riacho próximo que flui
através dos terrenos baldios
e sua escova de plástico,
sapatos, tangas, dentes.
VOAR
Quando amanhece o dia,
quando a luz se vai
e a noite começa;
quando nossos filhos
principiam a caminhar
e ir à escola,
e se despedem
de nós
nas portas
da universidade,
e viajam de país
em país
para enviar-nos
postais
de sua maturidade
as fotos
de seus próprios filhos
aí encontraremos
a poesia escrita
para capturar
o voo
da borboleta
justo quando se vai
para conciliarmos
com a perda
dos entes queridos,
de nossos pais
ainda com os gatos
e cães, a poesia
nos acompanha
quando ganhamos
um emprego e
quando perdemos,
é amiga, consolo,
ponte até Deus,
Mulher, o mistério,
o irracional, nos
assegura que não estamos
sós, que habitamos
uma comunidade
feita de metáforas,
ritmos, cadências,
de linguagem, pois,
e seus bailes
e cantos.
*
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 4, jan./jun. No. 7 – jan./jun. 2022. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína, Opção editora, 2023. 158 p. ISSN 2674-8495
TRADUÇÃO DO ESPANHOL por MARCOS FREITAS
VISITA
De que lado dormes?
Deixa-me ensinar-te
a fazer a cama.
É agradável fazê-la juntos;
o tempo é elástico,
nos apoiará com os lençóis.
Seguiremos com as tarefas
que nos aguardavam
antes de haver-nos conhecido,
antes dos saltos
entre dores até este orifício
profundo de solidão.
o frio que vence
as provas de casacos,
lenços e bonés;
não há roupa
para a salvação campestre
ou para o uso citadino
estarás desnudo sempre
ao menos por um momento,
ou por alguns anos, sim, teu amor
pode dar-te conforto,
construir contigo uma casa,
fazer a cama todos os dias.
Porém, o que há
com este morto
encontrado na porta,
este pássaro caído,
do céu, ainda cálido,
o pintarroxo mensageiro?
Por que hoje
a morte visita
esta casa?
De que lado
dormes?
*
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